Coprofagia (ingestão de fezes) é um exemplo típico de comportamento inimaginável por humanos, mas que faz parte do repertório comportamental canino (não no felino). Cães são animais carniceiros e durante todo o processo de domesticação e co-evolução com humanos a habilidade de ingerir restos de alimentos diversos e fezes foi importante para a sua sobrevivência.
Nem todos os cães comem fezes e entre os que comem pode haver preferências individuais: comer somente as próprias fezes, somente fezes de outros cães, fezes de gatos ou fezes de cavalo e assim por diante. Há ainda os cães que não necessariamente ingerem, mas brincam com as fezes.
Há o relato de coprofagia sendo mais prevalente em algumas raças e podemos perceber isso na nossa prática (alô, shihtzus), mas ainda não há nenhum estudo que prove essa teoria e nem qual seria a causa.
Apesar de ser um comportamento que faz parte do repertório canino, é importante descartar que a coprofagia seja um sintoma de um quadro clínico, entre eles:
Polifagia: doenças que causam aumento de apetite (como diabetes e hiperadrenocorticismo, por exemplo), medicamentos (fenobarbital e corticosteróides, por exemplo) ou dietas calóricas restritivas/fome podem levar à ingestão de fezes.
Má absorção: doenças que cursam com má absorção podem causar coprofagia e normalmente são acompanhadas de outros sintomas (fezes mal formadas, vômitos).
Além disso, a coprofagia pode aparecer em algumas situações:
Fêmeas ingerem as fezes da ninhada nas primeiras semanas de vida.
Filhotes podem ingerir ou explorar fezes com a boca durante as fases de maior exploração ambiental.
Há também possibilidades comportamentais para a coprofagia:
Tédio/estresse crônico: cães sem estimulação ou que vivem em ambiente pobre em recursos podem brincar ou explorar as fezes.
Condicionamento: o cão pode ter percebido que chama a atenção do tutor ao ingerir fezes (mesmo que a intenção do tutor seja interromper o comportamento) ou, ao contrário, pode associar as fezes no ambiente a bronca e "sumir" com a prova do crime.
Ansiedade: a coprofagia pode ser uma das manifestações comportamentais de ansiedade.
E ainda, os cães podem fazer coprofagia porque gostam mesmo. É o exemplo clássico de ingestão de fezes de gatos.
Como lidar?
Primeiro, descarte causas clínicas e entenda individualmente a coprofagia de cada cão para oferecer o tratamento direcionado. Porém, algumas regras gerais:
NUNCA punir cães por fazer xixi ou coco fora do lugar, cheirarem fezes ou mesmo a coprofagia. NUNCA é NUNCA, nem mesmo se você "pegá-lo" no flagra. Se percebe que ele está muito interessado nas fezes ou se preparando para urinar/defecar fora do banheirinho, chame-o e direcione ao lugar certo ou engaje em outra atividade para recolher as fezes.
Após defecar, elogie o cão e direcione ele para outro local, para se distrair com algo agradável (petisco, brinquedo que ame) para você juntar as fezes com calma.
Mantenha o ambiente limpo.
Rotina alimentar com quantidade, qualidade e horários definidos para alimentação pode ajudar a prever horários de defecação para o tutor estar próximo e supervisionar e evitar a ingestão.
Estimule seu cão com ferramentas de enriquecimento ambiental (olhe nossos destaques sobre o tema para ideias).
Se você tem cães e gatos juntos: mantenha um local isolado para o gato usar a caixa com privacidade e o cão não acessar a caixa (pode ser uma caixa em local elevado ou separada por um portão por onde o gato passe, mas o cão não).
Passeios na guia, sempre, por segurança do cão e para evitar a ingestão de fezes.
Ainda não há estudos que comprovem a eficácia do uso de substâncias que tornam as fezes menos atrativas para cães. Casos particulares exigem avaliação individual para a melhor prescrição de tratamento.
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